quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Chore sempre que doer

Chore quando doer, para não chorar o acúmulo de dores passadas.
É isso, tenho essa impressão: uma lágrima, quando resolve rolar pela nossa face, traz um monte de outras lágrimas que, por alguma razão, engolimos anteriormente.
Eu chamo de lágrimas oportunistas, aquelas que ficaram estancadas, impedidas de se fazerem porta-voz de algo que tanto nos machucou no passado. Ou, talvez, sejam as lágrimas que restaram porque choramos pela metade e fingimos que algo fora superado, quando, na verdade, ainda incomodava feito pedra no sapato.Então, a gente aproveita a oportunidade e chora o retroativo, para liquidar a fatura.
A gente chora pelos abandonos, inclusive na infância; pelas rupturas indesejadas no passado; pelas vezes em que zombaram do nosso sagrado.
Choramos pelas vezes em que riram dos nossos sonhos; pelas vezes em que sentimos medo e tivemos que nos fazer de fortes; a gente chora pelo presente de natal que não recebemos na infância pobre…é aquele amontoado de lembranças dolorosas e antiga que chega rasgando o nosso peito, machucando como se fosse hoje.
Pois é, é perda de tempo impedir o choro. Se a gente não chora quando precisa, a alma fica nos cobrando, importunando.
Daí, na primeira oportunidade, a fatura chega com todo o atrasado, e choramos de uma forma que parece desproporcional, mas não é.Não podemos estocar lágrimas, somos humanos. Precisamos assumir que temos todo o direito de chorar sempre que algo doer em nós.

Ansiedades

É difícil conseguir me lembrar do dia em que essa sensação começou. Primeiro a respiração rápida, depois o coração acelerado e a falta de ar. De repente meus pensamentos que antes pareciam ser tão controláveis explodiram. Foi como se tudo estivesse guardado dentro de uma caixa até que o fundo se rompeu e eles começaram a se chocar uns contra os outros. O que foi que aconteceu? As coisas pareceriam ser tão simples e agora tem sido tão difíceis. Tão intensas. Foi aí que qualquer sentimento passou a doer na alma. O lance ficou mais sério, porque as sensações que antes poderiam ser boas ou ruins passaram a ter proporções e consequências muito maiores. Poderiam acarretar em muita fome ou fome nenhuma. De uma hora pra outra eu perdia meu sono e a preocupação com os compromissos do dia seguinte simplesmente dificultavam ainda mais as coisas. Acordar cedo passou a ser um verdadeiro desafio. Talvez fosse até mais fácil passar a noite em claro e não ter que dormir. Ou talvez, pegar no sono fosse minha única válvula de escape. O futuro passou a ser pior do que o monstro que se escondia no armário da infância. Só que bem mais assustador, porque agora ele estava na minha cabeça. Passou a ser o motivo das minhas fugas e até mesmo das desculpas esfarrapadas quando eu precisava fazer coisas simples como ir ao cinema com os amigos ou fazer uma entrevista de emprego. Por que tudo parecia ser tão mais difícil pra mim? E então, comecei a me comparar com outras pessoas. Para elas, as rotinas simples da vida passavam quase que despercebidas. Era natural ir a um bar ou apresentar um trabalho na faculdade. Enquanto que para mim, doía até mesmo nas menores extremidades do corpo. Era uma dor e um medo que ecoavam na alma. Os pensamentos disparavam adrenalina e de repente era como estar em uma montanha russa e sair prestes a vomitar. Os amigos passaram a não entender. Ter um relacionamento passou a ser a mais distante das opções. Afinal, como seria o primeiro encontro? A primeira transa? Quantas milhões de vezes eu iria pensar e remoer todas as possibilidades do suposto namoro dar certo ou errado? Talvez fosse mesmo mais fácil ficar trancado no quarto, perdido nos meus livros e seriados, tentando bloquear meus pensamentos e torcer pra que não houvessem mais crises. Conversar sobre isso com outras pessoas era tão difícil. Afinal, era sempre a mesma pergunta: “Mas você tá ansioso pra quê?”. Como responder algo que nem eu conheço a resposta? Eu simplesmente estou. Tenho medo de para onde vou, qual caminho seguir e se terei forças para respirar amanhã. É tão difícil compreender? Mas se eu puder ter uma mão para me segurar. Apenas um abraço e um sussurro de “Tudo vai ficar bem”. Talvez eu possa sentir uma ponta de paz. Talvez seja possível ter um único suspiro de alívio e a esperança de que essa sensação vai desaparecer. E ter a certeza de que ela fez parte do meu passado e presente, mas que não terá energia suficiente para sobreviver até os dias do meu futuro.